Desde março deste ano, a Associação Empresarial de Navegantes – ACIN vem discutindo com entidades públicas e privadas um planejamento para a recuperação da praia do Gravatá, no extremo norte da orla de Navegantes. O local é o trecho mais comprometido pela ação das ressacas ocorridas há um ano, assim como pela ocupação urbana que nas últimas décadas fez desaparecer importantes áreas de dunas e vegetação de restinga, ainda presentes em grande parte dos cerca de 11 quilômetros de linha de costa, entre a foz do rio Itajaí-Açu e a ponta do Gravatá.
O Comitê para Recuperação da Praia de Gravatá, como vinha sendo denominado até pouco tempo, agora é Instituto Renova. Ele é formado por empresários representantes da ACIN e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), por membros da Ordem dos Advogados do Brasil – Subseção Navegantes (OAB NVG), do Sindicato das Indústrias da Construção Civil de Itajaí e Navegantes (SINDUSCON), da Fundação do Meio Ambiente (FUMAN), das secretarias de Governo, Urbanismo e Obras, Procuradoria Jurídica e alguns representantes da comunidade.
Este grupo, presidido por Rinaldo Luiz de Araújo, tem trabalhado em propostas para a elaboração de estudos técnicos e estratégias de captação de recursos para custear os trabalhos necessários. “Como são recursos da iniciativa privada, criamos o Instituto Renova, que será o responsável legal pela captação e gestão dos custos para estudos técnicos e obras, desburocratizando e dando celeridade ao processo”, destaca Rinaldo.
Uma das iniciativas recentes do Instituto é contratar uma empresa para fazer um estudo técnico e um projeto para a recuperação e engordamento da faixa de areia da praia do Gravatá. A novidade foi anunciada na noite do último feriado (15 de novembro), em uma reunião com a comunidade.
Obras em andamento
Enquanto as propostas do Instituto Renova se desenrolam, a Prefeitura já se organiza para a temporada de verão. Na semana do feriado, foram retomadas as obras de reconstrução do deque da Praia de Gravatá, que havia sido totalmente destruído pelas ressacas. Além disso, as secretarias do Turismo e de Obras fazem um levantamento para conserto das passarelas e rampas de acesso às praias.
Conforme o secretário municipal de Obras, Paulo Pereira, os trabalhos já começaram pelo Gravatá, onde está sendo preparada uma base de sustentação para receber o novo deque, que terá cerca de 500 metros de extensão. “Além disso, vamos construir 11 rampas na Praia do Gravatá, sendo cinco com acessibilidade especial”, conta o secretário.
Pereira também ressalta a notícia de que parte dos recursos federais para construção do molhe em Gravatá já foram liberados e a obra está em andamento. À imprensa local, uma denúncia aponta que a areia que está sendo utilizada nesta obra não é compatível com o local, o que o secretário descarta veementemente. “Não há possibilidade da areia causar qualquer tipo de dano ao meio ambiente, pois além da obra ser licenciada, a areia foi retirada do molhe de Navegantes”, afirma.
Breve histórico
A recuperação da praia de Gravatá tem sido almejada há anos pela Prefeitura e empresários locais. No ano de 1999, a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI aprovou um projeto no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – PADCT do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, para coleta de dados e identificação de jazidas sedimentares com sedimentos compatíveis para recuperação das praias que apresentassem processo erosivo na região norte do estado de Santa Catarina. Nessa época, muitos dados foram coletados, tendo sido elaborado um projeto básico para alimentação da praia do Gravatá.
No início dos anos 2000, a Prefeitura, como não dispunha de recursos para a realização de uma recuperação da praia do Gravatá utilizando sedimentos de jazidas sedimentares marinhas, utilizou sedimentos de uma jazida continental, mas que eram muito finos e incompatíveis com a praia e foram rapidamente removidos pelas ondas e correntes, não solucionando os processos erosivos. Depois disso, várias ações de proteção desta orla com a colocação de rochas foram realizadas.
Há cerca de um ano, duas ressacas de grandes proporções atingiram a praia em cheio, nos meses de setembro e outubro de 2017. Desde então, novamente rochas têm sido utilizadas para conter o avanço da maré sobre o calçadão e a avenida Prefeito Cirino Adolfo Cabral, mesmo com inúmeras alertas para o fato de que a sua colocação, além de não resolver o problema, tende a agravar os processos erosivos devido ao aumento da reflexão das ondas.
O que se faz necessário?
De acordo com o oceanógrafo e especialista em processos costeiros e recuperação de praias arenosas, Professor Doutor João Thadeu de Menezes, estudos específicos são necessários para o levantamento de dados importantes para a execução de qualquer obra de proteção e recuperação da orla de Navegantes, com destaque para a praia de Gravatá. “Sem um conhecimento aprofundado sobre a região, nenhuma obra resolverá o problema”, afirma Thadeu, que também é diretor da empresa Acquadinâmica Modelagem e Análise de Risco Ambiental Ltda, de Balneário Camboriú, professor da UNIVALI e presidente da Associação Brasileira de Oceanografia – AOCEANO.
João Thadeu de Menezes aponta que é preciso conhecer o problema a fundo para identificar as causas e encontrar soluções efetivas como, por exemplo, saber exatamente qual a energia das ondas e correntes marítimas incidente em determinada região.
Segundo o oceanógrafo, os recém-formados Comitê para Recuperação da Praia de Gravatá e Instituto Renova estão em busca de respostas e soluções para um problema que afeta diretamente a economia da região. Ele pondera que “uma boa dose de boa vontade já pode ser considerada um grande passo para uma solução pendente há décadas”.